domingo, 26 de abril de 2009

Quem quer ser um Milionário, por Rubens Ewald Filho


Gosto tanto do Danny Boyle. Gosto tanto de Rubens Ewald Filho. Gosto tanto deste texto dele, que abri meu espaço para reproduzir e dizer que concordo com tudo, em gênero, número e frame.

Quem quer ser um Milionário, Por Rubens Ewald Filho

Agora tudo muda de figura e as pessoas vão começar a reclamar, dizendo que o filme não é tudo isso, que não tem cara do Oscar e assim por diante. Nada mais normal. Até agora esta modesta produção inglesa, rodada na Índia, era um filminho que como David enfrentava os gigantes de Hollywood, como Benjamin Button que custou três vezes mais do que ele. Agora depois de levar oito Oscar (filme, direção, roteiro, fotografia, montagem, trilha musical, canção, som, ou seja todos os principais menos interpretação), virou fenômeno e chegou o momento de ter o backlash, a onda contra. De qualquer forma, vocês sabem que este era meu filme favorito do Oscar 2009. Um filme pequeno (relativamente) da Fox Seachlight (o Miss Sunshine deste ano). Uma produção britânica toda rodada na Índia, que nos dá uma visão exuberante, moderna, de emoções fortes e contrastantes, e que era o único dos concorrentes até agora ao menos, que não é depressivo ou trágico. Um filme bem de acordo com a Era Obama, em que os americanos enfrentam o futuro com apreensão, mas com esperança, acreditando que as coisas podem virar e melhorar. A fita tem essa mensagem positiva e isso conta muito neste momento, é a hora certa.

Quem dirige é Danny Boyle, que chegou a ser indicado como roteiro pelo filme que o revelou que foi Trainspotting, em 1996. Mas ele não estava de passagem e demonstrou isso numa carreira com altos e baixos, mas sempre um domínio técnico notável. Boyle experimentou Hollywood e viu que não era sua praia (Por uma Vida Menos Ordinária), fez uma digna adaptação de A Praia (mas foi engolido pelo fenômeno Di Caprio), deu a volta por cima com o terror, Extermínio (02), o delicioso Caídos do Céu (04) e o bom Sunshine – Alerta Solar (07). Mais versátil do que Guy Ritchie tem certa semelhança com ele pelo gosto de edição rápida, muitos planos em ritmo de music vídeo. Mas não esquece do conteúdo, nem de um roteiro muito preciso, o que fica claro aqui.
Esta é a historia (fictícia) de um adolescente pobre indiano que concorre a um programa tipo Jogo do Milhão do SBT. Ele acerta tanto que a própria produção do programa o entrega para a polícia suspeitando de fraude. Ele começa sendo torturado (aliás o plano inicial é ótimo pondo em formato de escolhas múltiplas o que ele estaria fazendo ali no programa) até ir confessando a relação das respostas com sua vida atormentada e muito pobre.
Tem um pouco de Salaam Bombay, Cidade de Deus, de tudo que se ouve da Índia antiga em contraste com a moderna e rica da Mombai (ex Bombaim) de atualmente. Só que os flash-backs não são tradicionais, a vida dele vai se desenrolando, mostrando como foi muito pobre, como a mãe foi morta por ser mulçumana, como foi parar nas mãos de explorador de crianças, como ele e o irmão protegeram uma menina órfã e se intitularam os três mosqueteiros.
Não há dúvida que algumas soluções são rocambolescas, ou melodramáticas, ou mesmo exageradas. Mas é obviamente um conto de fadas assumido. No contexto do filme funcionam lindamente até porque o filme não deixa de respeitar as convenções do cinema hindi (interrompe o beijo na boca, conclui com um grande numero musical). O bacana é que Boyle sabe dirigir atores (quase todos desconhecidos e amadores) e capturar a atenção do espectador. Fiquei cativo dos personagens, das cenas, da narrativa, do visual, me envolvi com a história e por varias vezes vibrei. Foi um prazer ver o filme e com alegria vou assisti-lo novamente. Tomara todo filme do Oscar fosse assim.

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