sábado, 30 de maio de 2009

VANIA BASTOS Virada Cultural de SJC com a voz mais linda do Mundo

Na Virada Cultural de S.José dos Campos, fui eu e meu amigo, o grande diretor teatral e cineasta Alexandre Cruz, ver no Teatro Municipal, uma diva...

Vânia Bastos. Aqui posto uma canja, para meus amigos verem pq a considero "uma das vozes mais lindas do mundo"... ouça com a alma.

Mas, neste video abaixo, ela canta, e nos convence de que a Alma pode ser acarinhada... ignore o Fabio, e curta Smille (Sorrir), música de Charles Chaplin.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

CHICO CÉSAR e O CORDEL DO FOGO ENCANTADO (Se Emocionando com a Virada Cultural, em SP)

Chico César no Teatro Municipal de SP - Depois de 1 hora na fila, conseguimos entrar no Municipal, o CD Aos Vivos marcou a minha vida, e estava ansioso e emocionado por assistir este gênio da música, num cenário tão impressionantemente belo. Musica e Arquitetura, matemática do belo! Chico César é Nascido na Paraíba, aos dezesseis anos foi para João Pessoa, onde se formou em jornalismo pela UFP, ao mesmo tempo em que participava do grupo de poesia Jaguaribe Carne. Aos 21, mudou-se para S.Paulo. Trabalhando como jornalista, aperfeiçoou-se em violão, multiplicou as composições e formou seu público. Sua carreira artística tem repercussão internacional. A maioria de suas canções são poesias de alto poder de encanto lingüístico. Em 91, fez uma turnê pela Alemanha, e o sucesso o animou a deixar o jornalismo para dedicar-se somente à música. Formou a banda Cuscuz Clã e passou a apresentar-se na noite. Já em 95 lançou Aos Vivos. Em 2005 lançou seu Cantáteis, pela editora Garamond.

As 9 da Manhã, depois de ver o sol nascer, vimos a Arte acontecer, o som mais inventivo estava para começar e atropelando pessoas fomos nos render aos pés da voz do poeta nordestino, Lirinha.

O Cordel do Fogo Encantado - Em 1997 um grupo teatral chamou a atenção para Arcoverde-PE. Nascia o espetáculo "Cordel do Fogo Encantado", basicamente de poesia, onde a música ocuparia um espaço de ligação. Na formação, José Paes de Lira, Clayton Barros e Emerson Calado. Por dois anos, o espetáculo, sucesso de público, percorreu o interior do estado. Em Recife, o grupo ganhou mais duas adesões que iria modificar sua trajetória: os percussionistas Nego Henrique e Rafa Almeida. Em 99 no Festival Rec-Beat o que era apenas uma peça teatral ganha contornos de um espetáculo musical. Ao lirismo das composições somou-se a força rítmica e melódica dos tambores de culto-africano e a música passou a ficar em primeiro plano. No carnaval pernambucano mais uma vez chamou a atenção de público e crítica e o que era, até então, sucesso regional, ultrapassou as fronteiras, ganhando visibilidade em outros estados e o status de revelação da música brasileira. Passa a percorrer o país, conquistando a todos com suas apresentações únicas e antológicas, surpreendem não somente pela força da mistura sonora ousada de instrumentos percussivos com a harmonia do violão raiz. Em 2001, com produção de Nana Vasconcellos, gravam o primeiro álbum. A evolução artística amplia ainda mais o alcance do som do grupo. Em 2002, o grupo grava o segundo trabalho, produzido por eles mesmos, de forma independente. Lançado no primeiro semestre de 2003, o trabalho foi considerado pela crítica especializada um dos mais inventivos trabalhos musicais produzidos nos últimos anos e ganha projeção internacional, com apresentações na Bélgica, Alemanha e França e mais de 20 prêmios (APCA (2001), BR-Rival (2002), Caras (2002), TIM (2003), Qualidade Brasil (2003) e o 2xPrêmio Hangar (2002 e 2003)). No cinema, a banda participou da trilha sonora de "Deus É Brasileiro" e "Lisbela e o Prisioneiro". Lirinha, como é conhecido, também atuou no filme Árido Movie, de 2006. Em outubro de 2005 o Cordel do Fogo Encantado lançou o DVD "MTV Apresenta", o primeiro registro audiovisual da banda. "Transfiguração", terceiro disco lançado em setembro de 2006, vem borrar ainda mais a linha de fronteira entre as artes cênicas e a música.

O MUNICIPAL (Aprendendo com a Virada Cultural em S.Paulo)

Chico César tocou no Municipal, então aproveito para mostrar a vcs a história deste Teatro de arquitetura deslumbrante:

O gosto pela música erudita já havia sido formado por influência da Côrte, tendo grande impulso durante reinado do Imperador Dom Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina. Na cidade de São Paulo, pequenos teatros cumpriam a tarefa da recepção de companhias internacionais que se apresentavam num circuito já bem conhecido. Inicia-se no ano de 1895, as discussões sobre a construção de um teatro especificamente para ópera com um projeto enviado para a Câmara Municipal que tramita sem sucesso. Em 1898, o Teatro São José é destruído por um incêndio; a Câmara Municipal lança incentivo para o empreendimento da construção do novo teatro, mediante a isenção de impostos. Neste momento, o Escritório Técnico de Ramos de Azevedo apresenta a proposta de construção.
O local escolhido para a construção foi o Morro do Chá, que já abrigava o Novo Theatro São José. Com o projeto as obras foram iniciadas em 1903 e finalizadas em 1911. O estilo arquitetônico é o eclético, em voga na Europa desde a segunda metade do século XIX. São combinados os estilos Renascentista, Barroco do setecentos e Art Nouveau, sendo o último o estilo da época. A inauguração estava marcada para o dia 11 de setembro, mas devido ao atraso na chegada dos cenários da companhia Titta Ruffo, em São Paulo, pois vinham de turnê pela Argentina, foi adiada para 12 de setembro. Houve uma grande aglomeração de pessoas no entorno do teatro, muitas admiradas pela iluminação com energia elétrica vinda de seu interior e pelo entorno. A noite foi iniciada com o trecho da obra “O Guarani”, de Carlos Gomes, devido a pressão da crítica paulistana. Seguiu-se depois a encenação da ópera “Hamlet”, de Ambroise Thomas, com o barítono Titta Ruffo no papel principal.


Atualmente, estando próximo de completar 100 anos, o Theatro Municipal de São Paulo é considerado um dos palcos de maior respeito no país, tendo abrigado apresentações dramáticas e óperas de grandes nomes nacionais e internacionais. Passa por uma novo restauro que será feito na fachada, Salão Nobre, além da reconstituição do Bar da Diana, através da restauração total das pinturas parietais e de teto, devolvendo a este espaço as características da época da inauguração em 1911.

ZECA BALEIRO Conhecendo com a Virada Cultural em SP

Tribo de Jah - A banda iniciou na Escola de Cegos do Maranhão onde se conheceram os quatro músicos cegos e um quinto músico com visão parcial (apenas em um olho), lugar em que viviam em regime de internato, começaram a desenvolver o gosto pela música improvisando instrumentos e descobrindo timbres e acordes. Posteriormente passaram a realizar shows nos bailes populares da capital (São Luiz) e outras cidades do interior do estado fazendo covers de seresta, reggae e lambada. Foi neste momento que surgiu o radialista Fauzi Beydoun, nascido em São Paulo, filho de italianos com libaneses, que já havia morado quatro anos na Costa do Marfim (África), grande aficionado pela cultura reggae a qual era efervescente em São Luis nos anos 1980, e que se tornou um fenômeno quase inexplicável nas terras brasileiras do Maranhão, invadindo inicialmente os guetos para depois tomar toda cidade, o interior do estado e até os estados vizinhos.

Zeca Baleiro - Começou sua carreira compondo melodias e músicas para peças infantis de teatro, onde se destacou pela qualidade de suas letras. Foi morar em São Paulo, onde dividia um apartamento com seu parceiro musical Chico César. Apesar de sua carreira musical já existir 12 anos antes de gravar seu primeiro disco em 1997, seu salto para a fama foi em sua participação no Acústico MTV de Gal Costa com a canção "A Flor da Pele", no qual alcançou projeção nacional. Nos anos seguintes gravou mais cinco discos com participação de outros cantores do Brasil, muitos dos quais são seus parceiro em composições como: Chico César, Rita Ribeiro, Lobão, Arnaldo Antunes, Zé Geraldo, Paulinho Moska, Lenine, Fagner, Zeca Pagodinho e Zé Ramalho. Sua música deriva de muitos ritmos tradicionais brasileiros: samba, pagode, baião com elementos do rock, pop e música eletrônica com um modo muito particular de tocar violão. Suas letras contém, de forma inteligente, humor e poesia.[

quarta-feira, 20 de maio de 2009

TRIO MOCOTÓ (Conhecendo com a Virada Cultural em S.Paulo)

Então fomos eu, Nicholas (o americano) e o Grud (o louco por Cordel) para S.Paulo, afim de assistir alguns shows da Virada Cultural, abaixo vc lê minhas impressões deste grande evento, que "não são de graça, pois são pagos pelos nossos impostos" (palavras de Lirinha):

Geraldo Azevedo, na Republica
Chegamos e pegamos as 3 ou 4 últimas músicas, mas já foi de se perceber o quão bonita e sensivel são suas composições, Geraldo é um sertanejo/nordestino sofisticado e como todo nordestino aquece o coração de nós sulistas. Acabou, nos abastecemos de cevada etilica e partimos pra eu apresentar pro meu amigo o Trio Mocotó, mas o americano seguiu para ver o show de luzes do Pq. da Luz.

Trio Mocotó, no Palco Samba-Rock
O Trio Mocotó "nasceu" em 1968 na Boate Jogral, onde Fritz "Escovão", João "Parahyba" e Nereu "Gargalo" trabalhavam. Na época, a boate paulistana era o grande ponto de encontro da música brasileira e os três contratados da casa acompanhavam diariamente nomes como Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho, Cartola, Paulo Vanzolini, Manezinho da Flauta, além das históricas "canjas" com artistas brasileiros. Uma dessas canjas começou a se tornar frequente: Jorge Ben no violão, Fritz na cuíca, Nereu no pandeiro e Joãozinho com sua mistura de timba e bateria. A batida que nasceu desse encontro, se transformou marca registrada e levou Jorge Ben e o trio definitivamente ao estrelato. E foi essa batida que deu origem ao samba-rock influenciando inclusive o amigo e admirador Tim Maia. O trio acompanhou Jorge em praticamente todas as musicas, Que Pena, Domingas, Take It Easy My Brother Charles e País Tropical.
Em 1969, a moda descobriu a perna feminina, subindo as saias bem acima dos joelhos e enquanto a minissaia escandalizava e fazia sucesso, a coxa feminina ganhava apelido: Mocotó. Como o trio estava sempre brincando com a gíria nova e comentando dos belos "mocotós" que frequentavam o Jogral, começaram a ser chamados informalmente de Trio Mocotó. No Festival Internacional da Canção, os três subiram ao palco ao lado de Jorge e defenderam Charles Anjo 45 debaixo das vaias de um maracanãzinho lotado. E no dia da Virada finalmente eu pude corrigir esse erro histórico e aplaudi-los muito, ah e dancei com eles.

Valter Viu Vanir Vê, Coelho Neles... Romeu e Julieta


Não há como negar, encenar um Romeu e Julieta de rua, é correr riscos... depois da montagem histórica e espiritual do Grupo Galpão, é no mínimo se atirar de um precipicio. Confesso que desconhecia a geografia paulista, e nem supunha a localização da cidade de Tanabi. Mas quando sentei naquela arquibancada de pedra do Memorial de Curitiba, Tanabi se revelou como uma Verona, tão conhecida e tão florida como um flerte do amor urgente e precipitado dos amantes shakespeareanos. O ator Rildo Goulart, repleto de história e emoções vem do alto do pressipicio cantando e ao chegar ao segurissimo chão do Memorial, pisa em estofo macio da sabedoria, vemos em seus olhos tanto amor, e um meigo toque no rosto de apaixonados espectadores, a distãncia do Galpão se estabelece e a proximidade com meu coração se tatua. Com músicas do nosso imaginário popular, Rildo também diretor, populariza os poemas do bardo. Um cavaquinho safado nos remete ao sexo urgente e escondido da fruta na árvore dos "capulettos", fruta na casa vizinha, roubo juvenil se anuncia. E um Romeu delicado, de gestos bailarinos, de máscara e olhos brilhantes, no que podemos supor que o amor é feminino, tão feminino quanto uma Julieta de sotaque que nos relembra Tanabi, enquanto ainda estamos ali em Verona. Rildo, também diretor, acaricia nossa alma, e nos presentea com um Romeu e Julieta, de imagens delicadas, coloridas e estéticamente perfeitas, o figurino nos embota de antigo, grego, nordestino e senhoril, não esquece da grande brincadeira de uma Ama fingida, divertida, safada e caricata, não esquece de nos divertir, afinal estamos na rua, lugar de liberdades e de boas revoluções. O amor urgente de adolescentes amantes nos lava a alma, passeamos por uma adaptação textual brasileira, enxuta e febril, competente. Passamos por uma direção segura, limpa, e autoral. Rildo está em cena, ele dá o tom, ele corrige, ele reavalia e ele segue em frente... o diretor em cena nunca deixa de ser diretor. Meus olhos vêem decadas depois, um novo Romeu e Julieta a se valer um suspiro, a me embrenhar de lágrimas e me fortalecer como artistas. Quando me levanto da arquibancada de pedra, não mais sou feito delas, me encontro doce, refestelado, "valido" a pena e mais feliz. Tanabi já está no meu mapa, no mapa do teatro. A linda Julieta está lá morta, Romeu também, os muitos personagens choram, e um deles dá o veredito: Não se esqueçam nunca deste amor, entre Julieta e Romeu. Aplausos, bravos e (se as tivesse) flores. Muitas flores

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Valter Viu Vanir Vê, Coelho Neles... Festival de Curitiba

Aqui teço alguns comentários sobre as pouquissimas peças que assisti durante os 5 Dias que estive em Curitiba, apresentando meu espetáculo Do Alto do Seu Encanto, vamos lá:

Garagem do Rock, Cia Mama Djo Djo, do Rio de Janeiro. "Três amigos, músicos com um objetivo: encontrar via anúncio de jornal um vocalista para a banda. Garagem do Rock mostra ao público as dificuldades do começo da carreira de uma banda."
Uma grata surpresa. E um pensamento que se a TV investisse na qualidade dos textos que apresenta na programação voltada a adolescentes, as coisas não estavam tão ruins como estão por ai. O texto é muito bom, e bem estruturado dramaturgicamente, tanto que faz o "nada de novo" parecer interessante, prender a atenção e até derrubar lágrimas e debulhar risos, muito riso. Aquela velha formula "sessão da tarde" de apresentar "personagens inusitados que se confrontam através de suas diversidades musicais e anseios", colocando como pano de fundo uma pequena garagem com muito rock'n’roll, os atores cantam, imitam famosos, falam a linguagem dos jovens e cativam tanto a platéia que o final se transforma no final proposto pelo espetáculo, um grande show de rock juvenil.

Otelo Essêncial, de Curitiba, "Esta adaptação, denominada como “essencial”, é apresentada de uma forma não linear e com uma narrativa cinematográfica. Conta a história original, mas do ponto de vista da personagem Iago."
Marino Jr. um dos nomes mais conhecidos da cena curitibana, colocou no palco uma sintese, quase um resumo da obra de Shakespeare. E mesmo assim ela continua grande, eloquente e voraz. Há nesta montagem uma acertada vontade de resgatar o coro como peça de impacto dramático, e o coro deste Otelo faz tremer as estruturas de um teatro fisicamente tão pequeno, onde assisti (Sala Edson D´avila). A movimentação rigida e marcada, quase coreografada, faz a ambientação perfeita para um exército, como propõe o texto. O dramalhão e o desfeixo são muito bem armados, e consegue emocionar, mas não é a emoção que busca e nem sente essa montagem de Otelo, e sim a força, a virilidade, a rispidez e a truculência. Muitas vezes o público está despreparado para ver uma história de amor onde docilidade e sutilezas não estão incluídas na cena. A maquiagem nos atores e o visual da Desdemona são a duas únicas coisas discutiveis e enfraquecedoras neste forte espetáculo.

Valter Viu Vanir Vê, Coelho Neles... Festival de Curitiba

Aqui teço alguns comentários sobre as pouquissimas peças que assisti durante os 5 Dias que estive em Curitiba, apresentando meu espetáculo Do Alto do Seu Encanto, vamos lá:

Pela Passagem de Uma Grande Dor, do Grupo de Teatro Estereótipos, de Curitiba. "Aborda o universo do amor à beira de seus limites mais dóceis e desesperadores"
Se o Ibama ameaça prender um cidadão da zona rural, sem estudos e informações, que aprisiona numa gaiola uma espécie de pássaro raro e silvestre, quanto aumentaria a pena para um que aprisiona a mesma espécie, mas consciênte de sua raridade, extinção, um colecionador instruído e com todas as informações do mundo ecológico? Assim me pareceu quase criminosa a montagem de tão belos contos de Caio Fernando Abreu por este grupo de estudantes universitários de teatro. O que lá na universidade andam estudando? A poética ou a verborragia? A ação interior ou a inércia? Boal ou Bial? A peça desiste do espectador e fica centrado (e sentados) em seus egos e nada evolui, sem conflito, sem extase, sem climax e sem nem mesmo lerem o amor de forma ácida como o autor o escreveu. Quando o teatro e a literatura se juntam, há outras soluções, do que apenas transcrever, por isso os gregos inventaram a "dramaturgia" e a midia inventou o "forró universitário". Professores vão ensinar e alunos, se a vida tá chata, vão dançar em alguma rep.


Uma Estória de Muitas Estórias, da Cia Arcênicos, de Atibais-SP "Pedro achou um pato de madeira feito pelo seu avô, mas seu amigo Lucas quebra o pato. Os 2 amigos percorrerão uma grande jornada para arrumar o patinho, diante da indiferença dos adultos."
Têm muitos metodos, estilos, formatos e fórmulas de se fazer teatro, e no teatro de Rua as técnicas podem se juntar e construir uma grande pirâmide de força para prender a atenção e angariar a platéia, valeria tudo, já que na Rua os espectadores estão soltos, livres para ir e vir. Nesta peça vale tudo, mas nada se consegue. O teatro não se estabelece. O jogo teatral, não é proposto e se não é colocado à mostra, ninguém joga. Em um texto que de tão simplório, desconfiei que se tratava de algo subliminar, oculto, um enigma... mas não era nada. Um dramaturgia oca para uma história sem vigor e sem nenhuma busca cênica. Parece que eles não tinham nada a dizer. E de tanto não se ter nada, foram a Curitiba tentar voltar com algo. Que pena, pois seus atores simpaticos e carismáticos não mereciam tantos equivocos.

Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny, de Bertold Brecht, da Cia de Teatro Acidental, Campinas-SP"Fugitivos encurralados no deserto decidem fundar ali uma cidade, Mahagonny, arapuca que tem como isca o prazer, paz e harmonia. 4 homens, entre eles Paul Ackermann, enriqueceram no Alasca e chegam ali para desfrutar tudo aquilo que o dinheiro pode comprar. Mas logo a insatisfação: sempre falta alguma coisa..."
O inquieto diretor Marcelo Lazaratto, um dos grandes nomes do novo teatro brasileiro, faz um grande happening do texto de Brecht. Troca as melodias de "três vinténs" do texto original, por melodias dos Beatles e assim concebe um musical moderno e cheio de nuances. O cinismo e as frases mordazes brechtinianas parecem tão atuais e recentes quanto um escandalo politico. A peça não economiza em nada, nem em emoções, nem em ousadia e muito menos em dedicação (O elenco percorria o centro inteiro, o dia todo, divulgando o espetáculo. E a noite fazia um espetáculo com muito gás e energia, e qualidade!). O elenco afiado canta, dança e atua seguindo marcações precisas e dinâmicas, produzindo uma estética cinematografica. Se tudo isso não bastasse para um bom espetáculo, ainda assim eles tem muito humor, destaque para a atriz Carol Tanaka.

A Roupa Nova do Imperador, da Cia Pó e Poeira, de Guaçuí-ES, "Um rei narcisista promove um concurso para eleger a nova roupa do rei, dois espertalhões armam um plano de fazer um traje em que somente aqueles que são nobres podem ver"
Quando começa, e sabemos que conhecemos este conto de Hans Crhistensen de cor e salteado, e os atores ocupam a cena fazendo papel de si mesmo, o tão batido recurso do teatro amador e de rua, e esse início nos dá uma falsa idéia do quão interessante se tornará o espetáculo. Depois que o elenco inicia de fato a história das vestes do Rei temos boas surpresas, uma direção sábia em valorizar as caracteristicas de cada ator, e uma festa em cena, convidativa ao público presente. Claro, o elenco conta com atores que mesmo "parados" são muito engraçados, mas o grupo parece coeso e responsável, levam a sério a brincadeira e divertem, se divertindo junto.

Valter Vanir Coelho comenta as peças que viu do Festival de Curitiba 2009

Aqui teço alguns comentários sobre as pouquissimas peças que assisti durante os 5 Dias que estive em Curitiba, apresentando meu espetáculo Do Alto do Seu Encanto, vamos lá:

Oculto, da Cia Luz de Fomento Cultural, Curitiba
"Peça que apresenta questionamentos filosóficos, éticos e morais, na qual a sociedade é ironicamente apresentada."
Por que precisamos que o rádio toque a música que já tantas vezes ouvimos? Será que é pra cantarolar junto? A peça critica a sociedade, mas usa o mesmo recurso que critica, a "repetição do que sabemos". O diretor da peça Marcio Ferreira Pereira, como ator: é um grande cômico. Como sonoplasta: tem um excelênte gosto musical. Como diretor de arte: sabe criar um clima e ambiênte teatral. Como cantor: podia estar no Faustão, tranquilamente. Como diretor teatral: Bom como diretor aí ele péca. As atrizes da peça tem participações vexatórias, mas não por culpa delas, parecem terem sido mal orientadas, a incisão das musicas também, como o outro ator que ali contracena. A peça traz a mesma velha cantilena de se falar mal do que a mídia nos apresenta, de falar do sistema, sem saber "de quem é a culpa, ou pq ele está ai". Só esquecendo de rechear o conteúdo da peça com soluções ou sugestões. E o teatro não é uma mídia? Não me espantarei se o excelente funk da peça um dia seja lançado em CD pela Som Livre.

Duplo Cego, da Cia Barridos em Cena, Curitiba "Biografias veladas e inventadas revelam-se no corpo e na encenação. Uma exposição ao observador do que se revela espetacular. O criador desdobra-se em suas próprias criaturas, projeta-se em seus registros, adapta-se e utiliza seus desdobramentos."
Na noite anterior, no quarto do hostel, tinhamos rido e proposto um jogo entre os presentes, se alguem conseguia decifrar a "sinopse" desta peça, impressa no Guia do Festival, claro que todos acertaram quando disseram "exercicio teatral levado ao público", mas eu mesmo assim fui lá ver... Minha paciência e meu penico duraram bem pouco. A peça, ou a experimentação, não tem nenhuma direção dramaturgica, nem ordenação de idéias, entre ler (nem decorado era), bulas e sequencias numericas, alguns atores tentam produzir imagens, o que poderia ser utilizado como uma instalação sem criatividade e nexo, acaba ficando pior quando é proposto como teatro.

Amêsa, da Cia Teatro Gente, de Salvador-BA "O texto trata da personagem Amêsa narrando sua própria história. Sua narrativa parte, não dos fatos, mas das marcas que ficaram em seu corpo e em sua alma."
A atriz angolana Heloisa Jorge já está no palco quando a platéia entra, entoa um canto sofrido e belo, quando as ações se iniciam vemos uma mulher fortemente armada de palavras e histórias, e seu corpo traduz uma belissima poesia gestual, os musculos da atriz transforma cada (inusitado) movimento em um ballet de expressão arte-corporal. Não há como negar que o monólogo como foi colocado em cena as vezes deixa o texto frágil, dependendo apenas da performance da atriz, mas ela dá conta do recado. O recurso da repetição de certas frases no texto cria além de um exercicio interpretativo interessante, como marca o sofrimento da personagem como um eco desesperador e ruminante.

<Desafio de Fião e Fiota, Cia Tereza-João, de Campo Grande-MT "A peça narra uma briga do casal, Fião resolve ir sozinho para os festejos de São João e Fiota sai à procura dele. Quando ela o encontra, eles começam um desafio rimado em que intimidades e desavenças do casal são expostas." A peça dura apenas 15 ou 20 minutos, como não sabiamos deste tempo (não havia lido antes na sinopse) me assustei quando a peça acabou, havia antes achado o ritmo das falas muito acelerado, muito verborragico e pouquissima ação, os atores sempre abreviando emoções ou piadas que podiam render mais, ou até esperar o desfecho de alguma atitude vinda do contracena. A rima rigorosa, e o vocabulário regionalizado, distancia os atores da comédia e da interatividade e rouba-lhes a jocosidade. Se acrescentassem simples pausas e respiros, o espetáculo chegaria a 30 ou 35 min., mas teria um aumento também de qualidade e graça.