
Se o Ibama ameaça prender um cidadão da zona rural, sem estudos e informações, que aprisiona numa gaiola uma espécie de pássaro raro e silvestre, quanto aumentaria a pena para um que aprisiona a mesma espécie, mas consciênte de sua raridade, extinção, um colecionador instruído e com todas as informações do mundo ecológico? Assim me pareceu quase criminosa a montagem de tão belos contos de Caio Fernando Abreu por este grupo de estudantes universitários de teatro. O que lá na universidade andam estudando? A poética ou a verborragia? A ação interior ou a inércia? Boal ou Bial? A peça desiste do espectador e fica centrado (e sentados) em seus egos e nada evolui, sem conflito, sem extase, sem climax e sem nem mesmo lerem o amor de forma ácida como o autor o escreveu. Quando o teatro e a literatura se juntam, há outras soluções, do que apenas transcrever, por isso os gregos inventaram a "dramaturgia" e a midia inventou o "forró universitário". Professores vão ensinar e alunos, se a vida tá chata, vão dançar em alguma rep.

Têm muitos metodos, estilos, formatos e fórmulas de se fazer teatro, e no teatro de Rua as técnicas podem se juntar e construir uma grande pirâmide de força para prender a atenção e angariar a platéia, valeria tudo, já que na Rua os espectadores estão soltos, livres para ir e vir. Nesta peça vale tudo, mas nada se consegue. O teatro não se estabelece. O jogo teatral, não é proposto e se não é colocado à mostra, ninguém joga. Em um texto que de tão simplório, desconfiei que se tratava de algo subliminar, oculto, um enigma... mas não era nada. Um dramaturgia oca para uma história sem vigor e sem nenhuma busca cênica. Parece que eles não tinham nada a dizer. E de tanto não se ter nada, foram a Curitiba tentar voltar com algo. Que pena, pois seus atores simpaticos e carismáticos não mereciam tantos equivocos.

O inquieto diretor Marcelo Lazaratto, um dos grandes nomes do novo teatro brasileiro, faz um grande happening do texto de Brecht. Troca as melodias de "três vinténs" do texto original, por melodias dos Beatles e assim concebe um musical moderno e cheio de nuances. O cinismo e as frases mordazes brechtinianas parecem tão atuais e recentes quanto um escandalo politico. A peça não economiza em nada, nem em emoções, nem em ousadia e muito menos em dedicação (O elenco percorria o centro inteiro, o dia todo, divulgando o espetáculo. E a noite fazia um espetáculo com muito gás e energia, e qualidade!). O elenco afiado canta, dança e atua seguindo marcações precisas e dinâmicas, produzindo uma estética cinematografica. Se tudo isso não bastasse para um bom espetáculo, ainda assim eles tem muito humor, destaque para a atriz Carol Tanaka.

Quando começa, e sabemos que conhecemos este conto de Hans Crhistensen de cor e salteado, e os atores ocupam a cena fazendo papel de si mesmo, o tão batido recurso do teatro amador e de rua, e esse início nos dá uma falsa idéia do quão interessante se tornará o espetáculo. Depois que o elenco inicia de fato a história das vestes do Rei temos boas surpresas, uma direção sábia em valorizar as caracteristicas de cada ator, e uma festa em cena, convidativa ao público presente. Claro, o elenco conta com atores que mesmo "parados" são muito engraçados, mas o grupo parece coeso e responsável, levam a sério a brincadeira e divertem, se divertindo junto.
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