Aqui teço alguns comentários sobre as pouquissimas peças que assisti durante os 5 Dias que estive em Curitiba, apresentando meu espetáculo Do Alto do Seu Encanto, vamos lá:
Oculto, da Cia Luz de Fomento Cultural, Curitiba
"Peça que apresenta questionamentos filosóficos, éticos e morais, na qual a sociedade é ironicamente apresentada."
Por que precisamos que o rádio toque a música que já tantas vezes ouvimos? Será que é pra cantarolar junto? A peça critica a sociedade, mas usa o mesmo recurso que critica, a "repetição do que sabemos". O diretor da peça Marcio Ferreira Pereira, como ator: é um grande cômico. Como sonoplasta: tem um excelênte gosto musical. Como diretor de arte: sabe criar um clima e ambiênte teatral. Como cantor: podia estar no Faustão, tranquilamente. Como diretor teatral: Bom como diretor aí ele péca. As atrizes da peça tem participações vexatórias, mas não por culpa delas, parecem terem sido mal orientadas, a incisão das musicas também, como o outro ator que ali contracena. A peça traz a mesma velha cantilena de se falar mal do que a mídia nos apresenta, de falar do sistema, sem saber "de quem é a culpa, ou pq ele está ai". Só esquecendo de rechear o conteúdo da peça com soluções ou sugestões. E o teatro não é uma mídia? Não me espantarei se o excelente funk da peça um dia seja lançado em CD pela Som Livre.
Duplo Cego, da Cia Barridos em Cena, Curitiba "Biografias veladas e inventadas revelam-se no corpo e na encenação. Uma exposição ao observador do que se revela espetacular. O criador desdobra-se em suas próprias criaturas, projeta-se em seus registros, adapta-se e utiliza seus desdobramentos."
Na noite anterior, no quarto do hostel, tinhamos rido e proposto um jogo entre os presentes, se alguem conseguia decifrar a "sinopse" desta peça, impressa no Guia do Festival, claro que todos acertaram quando disseram "exercicio teatral levado ao público", mas eu mesmo assim fui lá ver... Minha paciência e meu penico duraram bem pouco. A peça, ou a experimentação, não tem nenhuma direção dramaturgica, nem ordenação de idéias, entre ler (nem decorado era), bulas e sequencias numericas, alguns atores tentam produzir imagens, o que poderia ser utilizado como uma instalação sem criatividade e nexo, acaba ficando pior quando é proposto como teatro.
Amêsa, da Cia Teatro Gente, de Salvador-BA "O texto trata da personagem Amêsa narrando sua própria história. Sua narrativa parte, não dos fatos, mas das marcas que ficaram em seu corpo e em sua alma."
A atriz angolana Heloisa Jorge já está no palco quando a platéia entra, entoa um canto sofrido e belo, quando as ações se iniciam vemos uma mulher fortemente armada de palavras e histórias, e seu corpo traduz uma belissima poesia gestual, os musculos da atriz transforma cada (inusitado) movimento em um ballet de expressão arte-corporal. Não há como negar que o monólogo como foi colocado em cena as vezes deixa o texto frágil, dependendo apenas da performance da atriz, mas ela dá conta do recado. O recurso da repetição de certas frases no texto cria além de um exercicio interpretativo interessante, como marca o sofrimento da personagem como um eco desesperador e ruminante.
<Desafio de Fião e Fiota, Cia Tereza-João, de Campo Grande-MT "A peça narra uma briga do casal, Fião resolve ir sozinho para os festejos de São João e Fiota sai à procura dele. Quando ela o encontra, eles começam um desafio rimado em que intimidades e desavenças do casal são expostas." A peça dura apenas 15 ou 20 minutos, como não sabiamos deste tempo (não havia lido antes na sinopse) me assustei quando a peça acabou, havia antes achado o ritmo das falas muito acelerado, muito verborragico e pouquissima ação, os atores sempre abreviando emoções ou piadas que podiam render mais, ou até esperar o desfecho de alguma atitude vinda do contracena. A rima rigorosa, e o vocabulário regionalizado, distancia os atores da comédia e da interatividade e rouba-lhes a jocosidade. Se acrescentassem simples pausas e respiros, o espetáculo chegaria a 30 ou 35 min., mas teria um aumento também de qualidade e graça.
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