quarta-feira, 20 de maio de 2009

Valter Viu Vanir Vê, Coelho Neles... Romeu e Julieta


Não há como negar, encenar um Romeu e Julieta de rua, é correr riscos... depois da montagem histórica e espiritual do Grupo Galpão, é no mínimo se atirar de um precipicio. Confesso que desconhecia a geografia paulista, e nem supunha a localização da cidade de Tanabi. Mas quando sentei naquela arquibancada de pedra do Memorial de Curitiba, Tanabi se revelou como uma Verona, tão conhecida e tão florida como um flerte do amor urgente e precipitado dos amantes shakespeareanos. O ator Rildo Goulart, repleto de história e emoções vem do alto do pressipicio cantando e ao chegar ao segurissimo chão do Memorial, pisa em estofo macio da sabedoria, vemos em seus olhos tanto amor, e um meigo toque no rosto de apaixonados espectadores, a distãncia do Galpão se estabelece e a proximidade com meu coração se tatua. Com músicas do nosso imaginário popular, Rildo também diretor, populariza os poemas do bardo. Um cavaquinho safado nos remete ao sexo urgente e escondido da fruta na árvore dos "capulettos", fruta na casa vizinha, roubo juvenil se anuncia. E um Romeu delicado, de gestos bailarinos, de máscara e olhos brilhantes, no que podemos supor que o amor é feminino, tão feminino quanto uma Julieta de sotaque que nos relembra Tanabi, enquanto ainda estamos ali em Verona. Rildo, também diretor, acaricia nossa alma, e nos presentea com um Romeu e Julieta, de imagens delicadas, coloridas e estéticamente perfeitas, o figurino nos embota de antigo, grego, nordestino e senhoril, não esquece da grande brincadeira de uma Ama fingida, divertida, safada e caricata, não esquece de nos divertir, afinal estamos na rua, lugar de liberdades e de boas revoluções. O amor urgente de adolescentes amantes nos lava a alma, passeamos por uma adaptação textual brasileira, enxuta e febril, competente. Passamos por uma direção segura, limpa, e autoral. Rildo está em cena, ele dá o tom, ele corrige, ele reavalia e ele segue em frente... o diretor em cena nunca deixa de ser diretor. Meus olhos vêem decadas depois, um novo Romeu e Julieta a se valer um suspiro, a me embrenhar de lágrimas e me fortalecer como artistas. Quando me levanto da arquibancada de pedra, não mais sou feito delas, me encontro doce, refestelado, "valido" a pena e mais feliz. Tanabi já está no meu mapa, no mapa do teatro. A linda Julieta está lá morta, Romeu também, os muitos personagens choram, e um deles dá o veredito: Não se esqueçam nunca deste amor, entre Julieta e Romeu. Aplausos, bravos e (se as tivesse) flores. Muitas flores

Um comentário:

Édyson . Brandão disse...

Olá, Valter!
É uma maravilha e uma sensação incrível de satisfação e força toda vez que eu vejo e lembro dos dias em Curitiba. Ler sua opinião sobre o nosso trabalho é muito importante, pois tenho a confiança de alguém que conheça a técnica da arte e tenha a sensibilidade de uma pessoa comum. Eu, como ator e mais um Romeu na história do teatro fico extremamente feliz em ler tuas palavras e gostaria de dizer milhões de 'obrigado's, porém, sempre vou agradecer-lhe com minha arte. E que nós todos continuemos assim ou melhor!
Grande abraço!