quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Saló - 120 minutos de escrotices, o filme.

Acabei de assistir Saló - 120 Dias de Sodoma filme emblemático do diretor italiano Pier Paolo Pasolini, o filme conta a história de um grupo de autoridades fascistas que sequestram jovens meninos e meninas para uma mansão isolada para alí fazer com eles todas as experiências sexuais possiveis.
Um dos filmes mais chocantes de todos os tempos. E continua chocante. Essa alcunha pode até parecer exagerada, mas essa crítica cinematográfica aos poderes dominantes da Itália dos anos 60/70 e o fascismo, em uma catarse explícita e incômoda vai muito além do campo das idéias, o impacto também é sentido no estômago. Realizado em 1975, por um agressivo Pier Paolo Passolini, Saló faz alegoria com a estória de vários jovens italianos que na Itália fascista de 1944 sofrem o diabo nas mãos de quatro poderosos. O Duque (representando a nobreza), o Bispo (a igreja), o Presidente (o poder político) e o Magistrado (a corrupção e a justiça). Dezesseis jovens são recrutados em vilas e são submetidos aos três círculos: Das Taras (ou manias), Da Merda (o mais repugnante) e Círculo do Sangue.
Baseado na obra do Marquês de Sade, o que se ver a seguir é um show de horrores. Submissão, sexo e muita violência como jamais o cinema mostrou. Em uma cena, um dos senhores solta sua merda no chão e obriga um dos confinados a comer o excremento com uma colher. O algoz grita mangiare e isso fica na cabeça. Impressionante. Outro momento forte, já no início do círculo da dor, é uma armadilha que um dos senhores faz ao colocar pregos em um tipo de angu e oferecer a um incauto faminto. Impossível não ver essa cena entre os dedos! Como não podia ser diferente, algumas vítimas gostam da submissão. O banquete em que um jovem demonstra carinho e cumplicidade com o Bispo é de dar náuseas (não só pela escatologia, mas pela aceitação da condição). Pasolini não se aventurou apenas como cineasta, mas também foi poeta e escritor. Contestador, revolucionário, comunista e homossexual - ele foi morto por um garoto de programa (um dos atores de Saló), mas há uma versão de que seu assassinato teve motivação política. Um homem genial e cheio de contradições que entregou aqui sua obra mais contundente. O espectador pode até não gostar, mas não vai conseguir esquecer Saló. Isso, com certeza, não vai. O filme fecha sem final, deixando em aberto para o espectador, isso me imcomoda sempre, mas ao mesmo tempo não imaginava como o filme poderia fechar suas aspas de cores tão fortes.

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