
Quando fui assistir "Vereda da Salvação" do Antunes Filho, vi Laura Cardoso em cena, contracenando com Luis Mello, me apaixonei por ela, a ví arrastando pelo chão, correndo, atuando e me emocionando, como nunca ninguem havia feito... foi ai que o Zeno Wilde(q iria dirigi-la em "Olhos Negros", e havia me levado ao teatro) me levou até o camarim, eu fui com muita expectativa de dizer elogios rasgados a ela, mas quando a encontrei... fiquei mudo. Ela tirava calmamente a maquiagem com uma toalha de rosto, virou-se para mim parado na porta, o Zeno disse alguma coisa e saiu, e eu apenas olhei para ela. Ela pra se livrar do constrangedor silêncio me perguntou se eu havia gostado, devo ter dito "muito", ou "nossa, e como", mas voltei ao silêncio... Ela se virou ao espelho e me disse: "Vou tirar o resto da maquiagem aqui tá filhinho, se quiser ficar ai, fique a vontade, pode sentar se quiser..." e eu, besta, sentei... e eu que nunca calei a boca pra nada, fiquei ali, quieto, olhando a Laura Cardoso tirar a maquiagem até o fim. Quando ela terminou, Zeno entrou, falou com ela sobre o projeto deles, e saimos. Dei um tchau, um beijinho e falei "Desculpa, mas fiquei sem saber o que te falar!" e a imensa atriz respondeu: "Imagina, um dia teremos muitas coisas a conversar num camarim"! Mexeu no meu longo cabelo e entrou para a eternidade.
Um comentário:
É sempre mágico estar diante da precariedade do tempo, se dirigir a memória e reviver passagens tão mágicas... seguimos então mais fortes! Mas histórias por favor!
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